Condições essenciais para recuperar depois de uma crise.
“É inacreditável o que fazemos nas nossas relações.
Atribuímos ao outro a missão impossível de nos fazer felizes.
Não assumimos a responsabilidade de lidar com
a nossa própria mente.
Esperamos que alguém preencha nossa felicidade e bem-estar.”
Lama Tsering
Nestes tempos de modernidade, temos cada vez mais a consciência de como a saúde mental e o bem-estar são importantes para vivermos tempos difíceis e desafiantes.
A Organização Mundial de Saúde define a Saúde Psicológica como 'o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e pode contribuir para a comunidade em que se insere' (OMS, 2022).
Desta forma, promover a saúde psicológica e o bem-estar, assegurando as condições base de trabalho, em termos de segurança e estabilidade, é garantir que as pessoas estão integradas no seu local de trabalho e na sociedade, e desta forma se sentem cooperantes, produtivas e realizadas.
É por esse motivo que a Direção Geral de Saúde, já em 2021 considerou a saúde psicológica e o bem-estar como um dos melhores investimentos para as organizações que se queiram manter sustentáveis, produtivas e competitivas.
No entanto sabemos, que esta valorização da Saúde Mental nem sempre acontece nas nossas organizações, nem sempre este pilar social é prioridade para as Empresas e para os seus responsáveis, sendo urgente a sensibilização das estruturas de decisão para a equação,
Bem-Estar +
Motivação +
Satisfação no Trabalho
=
Maior Produtividade
Um dos riscos psicossociais, que aumentam os problemas de Saúde Mental no trabalho, estão diretamente associados ao aumento dos níveis de ansiedade e stress laboral, que quando prolongados num largo período de tempo contribuem para o desenvolvimento de problemas de saúde psicológica, entre eles o esgotamento, a depressão ou no limite o burnout.
Quando nos sentimos em luta e permanentemente exaustos, quando qualquer simples tarefa deixa uma sensação de exaustão e confusão mental - ou se nos sentimos tão stressados que, frente a uma contrariedade de vida, a resposta imediata será sentir-se zangado ou frustrado - são sinais de que poderá estar a experienciar burnout.
Tenho vindo a assinalar em consulta, ao longo dos últimos anos, um aumento do número de pedidos de apoio, onde o motivo são os sinais de sofrimento psíquico por burnout. Acompanho muitos clientes que declaram "estarem muito cansados, física e emocionalmente cansados". Poderemos associar este cansaço a um trabalho stressante, no entanto esta condição poderá afetar várias áreas da nossa vida, e poderá contribuir para outros problemas de saúde. No entanto, 'enquanto há vida há esperança', sendo possível identificar os sintomas e encontrar formas de recuperar deste estado de exaustão. De acordo com o os critérios encontrados no Dicionário de Psicologia da APA, burnout é definido como 'esgotamento físico, emocional e mental, acompanhado com um decréscimo de motivação, uma diminuição de desempenho e atitudes negativas para consigo próprio e perante os outros'
O reconhecimento dos sinais pode surgir numa fase avançada, quando se passa de um permanente cansaço, para uma fase de total exaustão e incapacidade de trabalhar.
Quais os sinais de alerta:
Fadiga persistente e não justificada por um aumento temporário de trabalho;
Apatia ou insatisfação perante o trabalho, de forma persistente e por um período de tempo prolongado, com perda de vontade de acordar, dificuldade em sair para trabalhar e sentir insatisfação e falta de alegria nas tarefas do quotidiano;
Dores persistentes de cabeça, associadas por exemplo a uma tensão dolorosa nas costas;
Mudanças nos padrões de sono ou na alimentação, mudanças nestes hábitos são igualmente sinais de que algo está perturbado no seu bem-estar.
O que fazer nestas condições?
O primeiro passo é reconhecer que algo não está bem e pedir ajuda para pensar num plano para recuperar. Procurar um terapeuta poderá ser um bom primeiro passo para começar o caminho de auto cura. É frequente falar-se na "sensação de que as baterias estão no mínimo, ou descarregadas", o primeiro passo será encontrar formas de recarregar essas baterias. O que fazemos em terapia é criar um espaço seguro, onde o cliente consegue falar com alguém treinado a observar de forma imparcial, e dar um feedback clinico sobre as condições que condicionam o bem-estar e apontar pistas de como mudar. Esta visão de fora pode ajudar a encontrar o 'fio à meada' e com isso tomar decisões que possam melhorar as condições de vida, especialmente em situações tão stressantes como as que vivemos na atualidade.
Em conjunto, cliente e terapeuta, vão observar os fatores de preocupação e stress, aquilo que poderão ser as preocupações do dia-a-dia e, como é que o cliente enfrenta esses desafios. Observando este acontecer poderemos em conjunto encontrar as pistas para o que poderá precisar de ser mudado ou equilibrado.
Sugestões de reflexão:
Fazer uma pausa poderá ser um primeiro passo para ultrapassar esta crise. Será necessário assumir a coragem de nos afastarmos da fonte de stress, para poder acolher a necessidade de cuidar da saúde e do bem-estar. Procurar, com regularidade fazer um check-in sobre o nosso estado emocional e físico, para podermos atender às nossas necessidades básicas. Perguntas simples como 'Como é que me sinto emocionalmente? Como é que estou fisicamente? 'são essenciais para avaliar e restabelecer o equilíbrio.
Encontrar espaço para exercício físico, ainda que o cliente possa sentir que lhe falta energia até para se levantar da cama será outro lasso importante. Desenvolver alguma atividade física, inicialmente de forma moderada, por exemplo caminhar, é uma excelente forma de lidar com a situação de crise. O efeito benéfico do exercício físico está documentado e é percetível logo nas primeiras tentativas.
Muito em voga, hoje em dia, será o conceito de mindfulness, que significa de forma simples, realizar atividades que permitam estar presente, física e emocionalmente, enquanto se realiza uma atividade. Também aqui, inicialmente, são precisos pouco minutos por dia, podendo começar por respirar profundamente. O extraordinário deste exercício é que, de uma forma simples, quando estamos focados em inspirar e expirar profundamente, estamos automaticamente presentes, no 'aqui e agora'.
Reorganizar as rotinas e priorizar as tarefas diárias, considerando a vida pessoal e profissional, é outra etapa importante. Torna-se vital estabelecer uma rotina saudável para o descanso, a alimentação e os tempos de pausa. É importante aprender a fechar a porta, quando se saí do trabalho, para abrir espaço para outros aspetos de uma vida saudável, que podem passar por relaxar ou simplesmente passar bons momentos de diversão, antes de entrar na vida familiar. Aprender a dizer que não e colocar limites, especialmente quando se trabalha a partir de casa ou muitas horas de seguida, por exemplo frente a um computador.
Lembro sempre aos meus clientes que, para se poder ser, bom(a) pai/mãe, companheiro(a), familiar ou criança precisamos de cuidar das nossas necessidades, priorizar esse auto-cuidado. Se as nossas baterias estão esgotadas, não conseguimos ser a melhor versão de nós próprios para as pessoas importantes da nossa vida.
Em tempos de crise, vale a pena investir em si e procurar ajuda profissional.
(leia e partilhe esta informação, a sua ajuda é importante)
Ana Paulico
(Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde)
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